Saturday, November 12, 2005

Chop Suey

[Acorde]

E os olhos se abriram. Lentamente, focalizaram o velho teto branco, a tinta descascada. Piscaram, duas vezes. Como se fosse para confirmar que aquilo era mesmo a realidade e que o sonho acabara. Sonho? Havia sonhado? Não lembrava. Sentou-se na cama. Sentia-se estranho. Uma sensação de tontura... Alguma coisa acontecera... Estava tudo, assim, tão diferente...

Sentou-se na cama e olhou pela janela. A vista era a de sempre: O céu azul-escuro clareando e o sol despontando no horizonte, seus raios refletidos na infinitude do oceano. Estranho... Nunca reparara o quão bela era a vista da sua janela.

Espreguiçou-se, e respirou fundo. Engasgou. O ar que inspirara não era mais o mesmo. Não podia ser. Era como se do dia pra noite houvessem alterado a atmosfera e substituído o oxigênio, aquela coisa deprimente, incolor, inodoro... por... algo novo. Inspirou novamente, dessa vez calmamente, sem se assustar com a nova sensação. Sentiu o ar entrando pelas suas narinas, deslizando suavemente pela traquéia, passando pelos pulmões e ,finalmente, chegando as suas células, onde ajudava a gerar a energia que é usada para abrir um pequeno sorriso em seu rosto.

Boceja. Sente seu corpo sendo atraído de volta para a cama, mas, usando todas as suas forças, se levanta e a passos lerdos se encaminha ao banheiro.

Ao entrar, depara-se com o espelho. Não nota que seus cabelos estão extremamente bagunçados, ou na espinha que surgiu em sua bochecha. Tudo o que consegue enxergar são seus olhos: Vermelhos, inxados, de tanto chorar durante a noite anteiror. Levanta a mão para tirar o cabelo de um dos olhos, e nota que o braço está cheio de... Cortes?

[Você fez isso, não lembra? Você se matou, Pedro]

Lembra da tesoura manchada de sangue. Da dor. Do sangue fluindo. Mas não cortara uma veia. Toca o rosto. Está quente. Está vivo... Mas está diferente. Muito. A festa... será que usara alguma coisa? Será que cheirara alguma coisa? A noite toda era um grande borrão.

[Você está morto, Pedro. Você não confia no seu Suicidio? Seu suicidio romântico, tragicômico, politicamente correto? Essa foi sua escolha, lembra? O fim e o clímax de sua tragédia grega pessoal]

A semana anterior passa pela sua cabeça, como um filme. Não, um filme não. Uma novela mexicana, com todo o dramalhão característico e com direito à dublagem mal feita. Então, ri.

Começa com um sorrizinho cínico no canto da boca e vai crescendo até se tornar uma gargalhada. Uma gargalhada alta, daquelas que explodem da boca, que te deixam sem ar, que fazem a barriga doer e você levar as mãos ao estômago. A gargalhada reverbera pelo banheiro, e de repente parece que não está rindo sozinho. O Mundo está rindo com ele. Não, rindo dele.

O Mundo o empurrava para baixo... Queria esmaga-lo. Caiu de joelhos, rindo. Patético. PATÉTICO. PA-TÉ-TI-CO. O Mundo gritava, zombava dele. E ele ria. De si mesmo, e do Mundo. A voz estava certa. Pedro morrera. E seus destroços agora riam daquilo que fora. "Eu sou o ódio de Pedro. Eu sou as cinzas de seu coração, renascendo. Sou sua raiva. Sou todas as suas frustrações e decepções. Sou a força que ele não sabia que tinha. Sou sua esperança que virou revolta. Eu sou uma caixa de Pandora que foi aberta."

Subitamente, calou a si mesmo e ao mundo. Levantou-se. Tomou um banho rápido, e depois passou um pouco da maquiagem da sua mãe para esconder as olheiras e os olhos inchados. Voltou ao quarto e vestiu uma camisa branca de mangas longas, que ganhara de aniversário e nunca usara. Botou uma calça jeans qualquer e voilá, estava pronto. Desceu as escadas.

Foi à cozinha para matar a fome, mas ao chegar lá encontrou algo que o fez esquecer completamente da comida. Sobre a mesa estava a chave dA Honda. Aquela japonesa que desejeva a mais de dois anos, a amante com quem seu pai fugia para os confins do Estado quando estava de saco cheio. A amada de seu pai. Aquela que ele era proibido de tocar. Deu um passo em direção a chave.

[Pare! Termine o que comeceu ontem. Pra quê continuar com essa tragédia? Ou você acha que vai transformar isso numa fábula à la Tim Burton? Você já tentou isso antes. E foi um fracasso de público]

Pegou a chave. E, com passos largos, foi até a porta. Abriu-a. O Mundo tentava assustá-lo com sua imensidão. Dizia que não conseguiria. Desafiava-o a dar mais um passo. Respirou fundo e atravessou a porta. Foi andando em direção à moto parada em frente a casa...

... Mas isso é uma outra história. Ou melhor, uma nova fábula.

4 Comments:

Blogger Rodrigo "Qu4resma" said...

F O D A !
Que pena que nossos pais não têm motos né? XD
Hugs and punches
Cya

3:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

Jack? É você? o.O
Resolvi passar no Covil para ver as novidades, mas não o encontrei...
Então descobri esse lugar...^^'''
Essa história foi... bem... você estava lá no fundo da fossa quando escreveu, foi?
Mas ficou muito bom!o.O'
Hmmm... Quando eu voltar com meu blog, posso te colocar entre os links?=D
Manda resposta pelo Orkut ou pelo meu antigo blog, certo...?^^
Beijos

4:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

texto foda. como você cansegue?
tim burton? minha vida bemq ue podia ser um filme dele. mesmo que acabasse que nem a do pedro. bah, vai acabar mesmo...
pedro? esse nome... não tem nada a ver com conversas nossas não, né? bah,. não deve ter

10:11 AM  
Anonymous Anonymous said...

ahn... depois de tudo explicado ficou mais foda ainda *beija os pés dele*

=*

3:42 PM  

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