Saturday, February 10, 2007

Quando ela foi embora

Dentro, música. Fora, chuva. Algum lugar entre isso, ele e ela.

Distantes um palmo; de todo jeito, distantes. Dois pares de olhos fixos em algum ponto depois da neblina; gotas de chuva molhando os rostos. Entre a música abafada pelas portas de vidro e o barulho da chuva atingindo o solo, uma atmosfera de silêncio engloba o par.

Não um silêncio asfixiante ou constrangedor ou mera falta de assunto. Até porque assunto nunca faltava; eram duas pessoas tímidas, caladas, mas com muito a dizer. Conversar, algo que ele achava difícil e muitas vezes excruciantemente irritante, era algo fácil e natural de se fazer com ela. E ela... ela sabia que ele a ouvia, de verdade. Não apenas assentia com a cabeça ou fingia prestar atenção: Ele se importava.

O silêncio aqui presente é aquele que nasce quando já não há mais nada a dizer; o silêncio que surge após todas as coisas certas terem sido ditas. Um silêncio nascido da perfeição.

Até que, por mais que ambas as partes queiram adiá-las, palavras escapam e cortam o ar, dilacerando a quietude; só se pode esperar da perfeição um momento.

"Tenho que ir." Seus lábios mal se abrem, seu corpo se vira e, com pressa, caminha até a porta. Uma de suas mãos a faz deslizar.

A mão direita dele se lança à esquerda dela. Encarando os longos cabelos castanhos dela, diz:

"Não esqueça: Nós sempre teremos Londres."

Ele não pode ver, mas ela sorri.

"Te vejo em Whitechapel"

As mãos se soltam.

3 Comments:

Blogger Rodrigo "Qu4resma" said...

nc[nocomments]

4:41 PM  
Anonymous Anonymous said...

dá pra imaginar tanta coisa. e sonhar tanto.

10:47 AM  
Blogger Yumejin said...

E sabe que esse texto me fez lembrar um conto que li esses dias. Acho que era Clarice Lispector. Amizade sincera. Excelente. Procure, se quiser.

11:40 AM  

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