Thursday, March 24, 2005

Hoje

Luz do sol entrando pela janela, lentamente revelando formas e cores ocultas a pouco. Fazendo-o rolar na cama, espreguiçar-se, abrir os olhos. Sono... Só mais cinco minutos? Não, Hoje não...

Hoje é um dia especial.

Levanta-se relutantemente, e segue o seu caminho até o banheiro. Mijadinha matinal básica. Ducha fria. Congelante, pra dizer a verdade.

Ao sair, encontra-se com si mesmo relfetido pelo espelho embaçado. Cabelos molhados escorridos sobre a testa, caindo sobre os olhos negros. Logo abaixo deles, olheiras que parecem crescer um pouco mais a cada dia. Barba por fazer há uns dois dias, só pra dar um ar displicente, um charme. Com movimentos mêcanicos, escova os dentes. Apressado, vai para o quarto. Coloca uma calça jeans surrada, uma camisa pólo, arruma os cabelos com as mãos e está pronto.

Desce as escadas do prédio como um raio. Ao sair, a primeira coisa que faz é olhar o céu. Tem um tom azul-escuro, enquanto raios alaranjados e roseados despontam no horizonte, onde o sol nasce atrás de um par de prédios. Dá-se ao luxo de perder uma eternidade ínfima admirando essa vista. Depois, começa a percorrer o seu trajeto. Passa pelas mesmas ruas desertas, com os mesmos prédios métalicos impessoais e casas residenciais com muros altos e cercas eletrificadas, cobertos pelo mesmo céu esplendoroso. Estranho... Algo parece errado.

Fora de lugar.

Num cruzamento, sente um perfume... Desconhecido e familiar. Vira-se. Um vulto dobrando a esquina. Corre, mas quando chega, não há nada.

Apenas o zumbido das cigarras.

Anda um pouco mais e chega na estação do metrô. Pega o trem, apenas o primeiro do dia, que o leva direto até o escritório aonde faz estágio.

O dia já começa cheio. Gritaria. Trabalho burocrático. Enfim, é uma equação simples: Estagiário=Escravo. O rélogio finalmente aponta Meio-dia. Vai até a lanchonete do Zeca e pede o de sempre.

A comida parece não querer descer hoje.

O dia está quente como o inferno. Limpa o suor da testa e termina o refrigerante. Paga a conta e saí. Segue seu caminho, com o sol impiedoso a lhe castigar. Entre as milhares de pessoas indo e vindo, acotovelando-se, formando uma multidão, um vulto lhe chama a atenção. Sem saber por quê, apressa o passo. Empurra uma velha gorda aqui, esbarra num cara de terno ali, mas aos poucos vai se aproximando da forma.

Cabelos loiros reluzem a luz do sol. Não dá para ver o rosto dela, mas o corpo é bonito. Ela atravessa a rua. Ele vai atrás. Conturbado, não nota o carro vindo rapidamente em sua direção.

O som de uma freada brusca o tira de seu transe. Vira-se para o lado, onde há um Celta branco a poucos centímetros de sua perna. Dentro dele, o motorista destila uma grande quantidade de impropérios. Sem dar a mínima, vira-se para procura-la. Tarde demais. Ela já se perdeu em meio a multidão.

Um brisa branda o consola.

O turno da tarde é ainda pior que o da manhã. Mais de uma vez considera a possibilidade de acertar um soco bem no meio do nari... Não, fucinho, do seu chefe. A imagem da criatura gorda e careca no chão, com uma mão no nariz quebrado, traz um sorriso aos seus lábios. Cinco horas. Fim de expediente.

Chega ofegante na estação do metrô. Olha para o relógio. Havia chegado alguns minutos antes do horário do trem. Senta-se enquanto espera o trem que o levará pra casa. Quando chegar lá, vai tomar banho, comer um pouco e ás 6:30 vai pegar outro trem para a faculdade, de onde só sairá as 11:00. Saco.

Seu trem chega, dois minutos mais cedo. Levanta-se e vai até ele. Mas, no meio do caminho, pára. Sem motivo nenhum, apenas uma sensação... Um sussuro e um grito, sem voz, sugerindo-o a ficar ali. Loucura. Esse é o trem que vem pegando pelos últimos dois anos, e se o deixar ir, significa que basicamente estará fudido. Não poderá ir pra casa a tempo, chegará atrasado na faculdade...

Talvez até perca a prova de cálculo. Não, ele tem que pegar o trem.

Mas não pega.

O trem parte. E ele continua ali. Olha ao redor, desnorteado. Procurando alguma coisa. Mais alguns minutos se passam, e quando finalmente começa a pensar no quê fazer agora, outro trem pára. Estava lotado, e as pessoas começam a se acotovelar para sair dele, como num funil.

A última a sair é Ela. Assim que Ela desse do trem, olha direto nos seus olhos. Os olhos de ambos se arregalam em surpresa. Nunca a vira antes, mas já a conhece a muito, muito tempo.

Quando a surpresa passa, ambos sorriem. Caminha lentamente até ela.

"Oi."

"Oi."

Wednesday, March 23, 2005

Preciso apenas do meu sorriso...
E o meu sorriso precisa apenas de mim.

Saturday, March 12, 2005

Eu não diria que gosto de escrever. Escrever pra mim não é um hobbie. É uma necessidade, como comer.

Escrever me dá a oportunidade de vomitar aquilo que está engasgado na minha garganta. Ou de me libertar das prisões do mundo e da vida por uns instantes... Por alguns minutos, não ser eu, mas sim um mero observador... Ou um personagem.

Se gostei ou não de ter escrito só saberei após ver o resultado final. As vezes, sentirei vergonha. Outras, orgulho. Mas só vou saber quando tiver escrito.

É isso. Pra mim, é: Escrevo, logo existo.