Monday, June 19, 2006

Difícil Explicar

A bosta do sinal toca e eu acordo. Olho para o relógio, são 11 da manhã. Atrás de mim, alguém gargalha alto. Uma risada irritante, idiota como ele. É o Paulo, um imbecil que só pensa em carros, sexo e dinheiro (para conseguir os dois primeiros). Filho de um desembargador ou coisa assim, ele já tem o futuro planejado - Fazer direito, e, com a ajuda do papai, virar juiz. Olho para a cara tomada de espinhas dele e tento imaginá-lo como um senhor respeitável, decidindo o que é certo ou errado, quem é culpado ou inocente... Quantas vidas esse merdinha vai arruinar?

Olho ao redor e tento imaginar meus colegas de classe como médicos, advogados, engenheiros... Se essa é a cara da porra do futuro, quero morrer jovem. Subitamente, sinto asco. Das paredes brancas. Dos sorrisos falsos. Das mentiras que os professores enfiam garganta abaixo. A hipocrisia desse lugar me sufoca.

Pego meus livros. Saio. Corro pelas escadas. Da quadra, sigo para os fundos. Pulo o muro.

Faz frio. Olho para o céu, está nublado. Ando até chegar num cruzamento, e, enquanto espero o sinal ficar vermelho, tento decidir para onde ir - Casa? Não, não quero brigar. Cinema? Faz uns dois anos que não fazem um filme que valha a pena ser visto. Praia? É, com sorte vejo um surfista se afogar ou algo assim.

Só então percebo que tem um cara do meu lado. Ele tem um sorriso grande, imbecil, de orelha a orelha colado na cara. Que retardado. Aí, olho para o outro lado da rua e vejo o motivo do sorriso. Claro, é uma garota. Uhm, não é ela que eu peguei naquele show, ano passado...?

É, é ela... Ana. Ela tem um sorriso bobo no rosto, também. Incrível como a felicidade deixa as pessoas mais bonitas. O sinal fecha, ele anda até ela. Eu observo. Eles se abraçam. Ela não me viu, nem o onibus que para no ponto ao meu lado, nem o mendigo a poucos metros dela; nós não existimos. O mundo dela é aquele cara, com seu sorriso imbecil de orelha a orelha. Eles se beijam.

Podia ser eu ali. Pedro disse que ela gostava de mim. Eu que a afastei, achava-a entediante. Por que porra estou pensando nisso agora? Ciúme? Não, não pode ser... Ela não tem nada de mais. Baixinha, cabelos pretos, ondulados. Só a bunda que é uma maravilha. Ela não é burra, mas está longe de ser inteligente. Não lê livros, só revista. É "eclética" (leia-se "gosta de tudo que a mídia empurrar") e é fã de Friends.

O cara-do-maior-sorriso-do-mundo pega a mão dela e eles vão embora. Me sinto mal. Por que?
A inveja me rói por dentro. Não, não invejo as mãos dadas, os abraços, os beijos de Ana. Isso eu já tive.

O que eu invejo é aquele maldito sorriso. Há quanto tempo que eu não tenho um sorriso estúpido, enorme, estampado na cara?

Sigo o meu caminho, e por ruas quase sujas, chego à praia.

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-Devorei e digeri O Apanhador No Campo De Centeio. Aqui está o excremento.

-Não, o personagem-narrador não sou eu. Nem eu sou assim.

-Duas guitarras, um baixo, bateria e uma voz elegante. Isso são os Strokes, e o que me leva por dias como esse.

-Dookie é o album que todo mundo devia ouvir aos 17 anos. Sim, é do Green Day. E, sim, eles são rockstars hoje e são pop e blablablablabla. 12 anos atrás eles eram apenas uns garotos tocando punk rock. Sim, punk rock. Se Dookie não é punk rock, os ramones nunca foram.

Sunday, June 11, 2006

Hey, ho! Let's go!!!

Seríamos oito, fomos quatro. A boate era um chiqueiro, mas, pelo menos, era bem grande. Já havia uma banda tocando, mas antes de mais nada, uma parada no bar pra uma dose de vodka.

"Cê paga quanto se eu virar isso?"
"Nada. Mas você não vira."
"Viro sim."
"Ok, um real. Sem fazer careta."
"..."
"E não é que o filho da puta não fez mesmo careta?"

Depois de eu ficar um real mais rico, fomos assistir o show. A banda era boa, olha que surpresa. Eles faziam um punk rock com uns toques de ska algo tipo....

"CARALHO, RANCID!!!" Isso foi eu gritando ao reconhecer os primeiros acordes de "Maxwell Murder", só a música punk com o melhor solo de baixo da história. Só ouvir essa música (e, consequentemente, dançar, chutar, socar, berrar....) já valeu o ingresso.

Infelizmente, a banda só tocou mais uma música e o show acabou. Então olhei ao redor, e vi que era um alien. Tirando o nosso grupinho, não havia ninguém que não estivesse usando all star/boné/óculos "quero-ser-o-vocalista-do-weezer". E nós... errr, um com camisa do Nirvana(a única! Onde já se viu, show com só UMA camisa do nirvana?), outro com camisa do Metallica (e cabelos do metal), eu com camisa "mamãe quem comprou" e o último com pose "sou gangsta. Vai encarar?".

Pouco depois, começou o segundo show. Eles subiram no palco com o maior jeito de bandinha-de-hardcore-da-mtv e eu me perguntei porque nunca tinha visto os caras na emissora antes. Quando começaram, vi que era porque eles ainda não eram ruins o bastante... Mas um dia eles chegam lá.

"Em Roma, faça como os romanos." Com isso em mente, me atirei na rodinha. E... é, tudo que me lembro desse show. Rodinha. Os dois shows seguintes foram de bandinhas emocore... Putamerda, que coisa ruim. Quando resolvi ir pra esse "festival" eu não tava esperando nenhum Babyshambles ou Art Brut... Pra falar a verdade, não esperava nem um Fall Out Boy. Mas aquilo que tocaram.... É tão ruim quanto comer a própria merda, vomitar e comer de novo... sabe?

Aproveitamos esse tempo para ficar o mais afastados possível do palco, descansando. Depois, mais duas bandas de hardcore completamente iguais... Mas que valeram a pena pelas rodas punk. Claro, esse é o tipo de coisa que você só acha divertido quando está sob o poder do álcool, mas foi bem divertido.

Depois, uma pausa para descansar. Pequena, porque logo sobe no palco uma banda cujo vocalista usa uma camisa do Ramones e.... ELES TOCAM RAMONES! Dentre aqueles que gostam de Rock N' Roll só deve haver duas bandas que são unanimidade: Beatles e Ramones. Incrível como todo mundo conhecia todas as músicas que a banda tocou, como todo mundo berrava os versos, como não havia ninguém que ficasse parado. ("Hey! Ho! Let's go!" TEM que ser o verso mais conhecido da história...) No dia em que eu dominar o mundo, o hino do planeta vai ser "Blitzkrieg Bop". Cês vão ver.

Enfim... Lá se foram as últimas reservas de energia, assim como o tempo, e logo voltamos para casa. Todos com um sorriso no rosto e um zunido no ouvido.