Sunday, September 24, 2006

What became of forever.

E a chuva cai. Como se o sangue dos Deuses escorresse dos céus, purificando este mundo podre, cada gota limpando um de nossos inúmeros pecados.

Um carro pára no acostamento de uma estrada. Ao fundo, escondida pela neblina, uma praia onde ondas quebram furiosas. A porta do carro se abre, um pé descalço dá um passo em direção à praia. Sem se importar com a chuva torrencial que cai, o homem caminha lentamente, olhos fixos nas ondas que quebram. A areia fria estranha os seus pés; o vento tenta empurrá-lo, como se estivesse adentrando em território proibido.

Passos incertos por caminhos conhecidos. Mémorias vão fluindo e se fundindo com a paisagem; mémorias de outra estação, outro tempo. Outra vida.

Espirra. Encharcado e tremendo de frio, provavelmente vai pegar uma gripe. Se tiver sorte, pneumonia. Deita. E, sentindo as gotas molhando seu rosto, adormece.

Após um sono sem sonhos, acorda. Sentindo o frio lhe abraçar e sob um céu avermelhado. O sol vai se escondendo atrás do horizonte, Espirra. Realmente vai pegar uma gripe.

Senta, olha para o mar. Memórias indo e vindo com as ondas. Se perde nelas.

Até que uma voz o traz de volta:

- Já faz um tempo, não?

A uns metros, vindo em sua direção, vem uma mulher de sua idade. Com roupa pra caminhada, os cabelos pretos tingidos de ruivos, aquele velho sorriso no rosto. Maldito sorriso.

- Me diga que você é uma alucinação.
- Também senti saudades.
- O que você faz aqui?
- Comprei uma casa por aqui, faz uns anos. Venho para cá quando preciso de inspiração...
- Que decepção. Nunca pensei que você fosse do tipo saudosista, Julia.
- Aparentemente, eu não sou a única. O que o traz de volta a esse paisinho de terceiro mundo?
- Você não soube? O André morreu.

Silêncio. Julia parece ter recebido um soco no estômago. É uma piada. Só pode ser uma piada. Mas não, não é uma piada.

- Como...? Quando isso aconteceu...?
- Há uma semana.
- Ele... ele morreu... de quê?
- Advinhe.
- Overdose...?
- Ha, não. Seria uma morte mais digna dele. Mas, não. Ele estava limpo há uns 2 anos... tinha se ajeitado. Estava noivo e tudo. Mas, então... Ele morreu num acidente de carro. E não era ele que dirijia bêbado.

Ela se senta ao lado dele.

- Mas... o que você está fazendo aqui?
- Vim me despedir.
- Você não foi ao enterro?
- Sim... Mas não era o meu amigo que estava lá. Ele ficou em algum lugar nessa praia.

Silêncio.

- ...Você está todo molhado. Não quer ir para minha casa, se enxugar...?
- Pela aliança no seu dedo, você ainda está casada com aquele idiota.
- Não, esse é outro idiota.
- Vou indo. Manda um abraço pra tua filha.

Ele se levanta.

- Fique. Por favor...
- Nem eu nem você somos os mesmos. Pra quê ficar?
- Por isso mesmo... Talvez agora dê certo.
- ...Talvez não é o bastante. Adeus, pra vocês dois.

Já está escuro quando ele volta ao carro.

Wednesday, September 06, 2006

Vou contar uma história. Uma história engraçada, sério.

É a história de um garoto. Uma porra de um moleque que não sabe merda nenhuma da vida. Ele, desde pequeno, sempre foi um merdinha preguiçoso. Não se imaginava fazendo nada, não sonhava em ser bombeiro ou astronauta nem nenhuma dessas merdas que os garotos geralmente sonham em ser quando crescer. Ele só se imaginava deitado numa rede, ouvindo música e tomando refrigerante.

Mas, cê sabe, o merdinha cresceu. Um pouco. E, lá pelo meio do ensino fundamental, o caralho do "mundo real" começou a estender suas garras sobre ele. Não, o garoto não poderia levar uma vida mansa e pregruiçosa pra sempre, um dia teria que se tornar a bosta de um cidadão "de bem" qualquer e trabalhar pra manter a porra do rabo dele e da família que ele infelizmente viria a ter. Então ele começou a pensar... Ele era bom em contas. Gostava de números, equações, geometria e essas merdas eram fáceis, ao contrário do Português com suas regras toscas, exceções, a língua que se escreve mas não se fala. Então um dia veio a iluminação: "Sou bom em contas... Vou ser engenheiro!"

Vamos adiantar as coisas um pouco mais. O merdinha está rabiscando qualquer lixo... E então percebe: "Vou fazer Arquitetura! Eu gosto de cálculos e de desenho, perfeito!"

Adianta pro segundo ano do ensino médio. O garoto, um pouco mais maduro, volta a pensar no quê fazer da vida. E surge na cabeça a dúvida por Medicina. Ele não tem problemas com sangue, tripas, corpos abertos... Gosta da área de biologia e de ajudar as pessoas. Hmmm, é, quem sabe?

Terceiro ano. A cabeça mais confusa que nunca, o imbecil faz um teste vocacional. Só por fazer, tinha certeza que ia dar engenharia. Todo mundo diz que ele tem cara de engenheiro. Depois de várias reuniões, perguntas, testes e o caralho a quatro... Finalmente é chamado para receber o resultado:

"Bem, eu sei as profissões que você está considerando... E, sinceramente, não o vejo fazendo nenhuma delas. Suas áreas de interesse estão relacionadas à arte e linguistíca, sem contar com sua excelente capacidade argumentativa. Falando sinceramente, acho que o curso em que você se encaixaria melhor é Direito."

Agora o garoto está ocupado demais rolando de rir no chão; qual a piada? Ele tem duas semanas pra se inscrever no vestibular. Ou dar um tiro na cabeça, whatever.

Saturday, September 02, 2006

- This is it, its gonna be over soon...
- I know.
- What do we do?
- Enjoy it.