Sunday, May 08, 2005

Melancolia

Desperta aos poucos, e vai se enterrando nas cobertas para fugir do frio. Olha pela janela. Ao invés do costumeiro céu azul claro, vê um painel cinza entrecortado por branco.

Um sorriso indecifrável cruza seus lábios.

Passos largos em direção a nada. Cheiro de terra molhada. Ao redor, pessoas apressadas escondem-se em casacos para fugir da chuva. Carros levantam sprays d'água quando passam. E a pintura dos prédios vai tombando frente a magnitude da água. Tudo se funde numa mistura de tons cinzas e pastéis. Está tudo tão belo...

Belo e triste.

A mesma água que ceifou inúmeras vidas abraça-o gentilmente. Frio.

O tempo passa, parado.

Senta-se em meio a um vácuo. Sente algumas presenças vagas próximas. Apenas ecos de palavras chegam até sua mente. Ignora-os. Vai sendo engolido ainda mais por esse vácuo... Vai se afastando do corpo, do mundo.

Um par de braços se enrosca em sua cintura. Abre os olhos e vê um sorriso. Um borrão vermelho nasce em meio à infinitude de cinza. Mãos sobem ao seu rosto e começam a massageá-lo.

Cerra os olhos. Toque... Os músculos relaxam. Pequenos movimentos circulares dão uma sensação... Prazerosa? Seus lábios se curvam, levemente.

Depois de um tempo, o movimento pára. Levantam. Andam.

Braços se enroscam. Bocas falam muito e não dizem nada. Olhos, as janelas da alma, desafiam-se a mostrar aquilo que se esconde atrás de cada um deles... Uma batalha sem vencedores. Percorrem juntos caminhos separados.

O corpo ao lado lhe transmite calor. E mais... Energia. Raiva. Dor. Calma... Alegria... Tristeza... E algo, maior, que não sente há muito tempo. Será que algum dia poderão realmente andar juntos?

Os pés param.

Despedem-se com um beijo inexistente e um tapa não dado.

E a chuva nunca pára.