Monday, November 28, 2005

Se Deus existe, eu sou sua piada favorita.

Saturday, November 12, 2005

Chop Suey

[Acorde]

E os olhos se abriram. Lentamente, focalizaram o velho teto branco, a tinta descascada. Piscaram, duas vezes. Como se fosse para confirmar que aquilo era mesmo a realidade e que o sonho acabara. Sonho? Havia sonhado? Não lembrava. Sentou-se na cama. Sentia-se estranho. Uma sensação de tontura... Alguma coisa acontecera... Estava tudo, assim, tão diferente...

Sentou-se na cama e olhou pela janela. A vista era a de sempre: O céu azul-escuro clareando e o sol despontando no horizonte, seus raios refletidos na infinitude do oceano. Estranho... Nunca reparara o quão bela era a vista da sua janela.

Espreguiçou-se, e respirou fundo. Engasgou. O ar que inspirara não era mais o mesmo. Não podia ser. Era como se do dia pra noite houvessem alterado a atmosfera e substituído o oxigênio, aquela coisa deprimente, incolor, inodoro... por... algo novo. Inspirou novamente, dessa vez calmamente, sem se assustar com a nova sensação. Sentiu o ar entrando pelas suas narinas, deslizando suavemente pela traquéia, passando pelos pulmões e ,finalmente, chegando as suas células, onde ajudava a gerar a energia que é usada para abrir um pequeno sorriso em seu rosto.

Boceja. Sente seu corpo sendo atraído de volta para a cama, mas, usando todas as suas forças, se levanta e a passos lerdos se encaminha ao banheiro.

Ao entrar, depara-se com o espelho. Não nota que seus cabelos estão extremamente bagunçados, ou na espinha que surgiu em sua bochecha. Tudo o que consegue enxergar são seus olhos: Vermelhos, inxados, de tanto chorar durante a noite anteiror. Levanta a mão para tirar o cabelo de um dos olhos, e nota que o braço está cheio de... Cortes?

[Você fez isso, não lembra? Você se matou, Pedro]

Lembra da tesoura manchada de sangue. Da dor. Do sangue fluindo. Mas não cortara uma veia. Toca o rosto. Está quente. Está vivo... Mas está diferente. Muito. A festa... será que usara alguma coisa? Será que cheirara alguma coisa? A noite toda era um grande borrão.

[Você está morto, Pedro. Você não confia no seu Suicidio? Seu suicidio romântico, tragicômico, politicamente correto? Essa foi sua escolha, lembra? O fim e o clímax de sua tragédia grega pessoal]

A semana anterior passa pela sua cabeça, como um filme. Não, um filme não. Uma novela mexicana, com todo o dramalhão característico e com direito à dublagem mal feita. Então, ri.

Começa com um sorrizinho cínico no canto da boca e vai crescendo até se tornar uma gargalhada. Uma gargalhada alta, daquelas que explodem da boca, que te deixam sem ar, que fazem a barriga doer e você levar as mãos ao estômago. A gargalhada reverbera pelo banheiro, e de repente parece que não está rindo sozinho. O Mundo está rindo com ele. Não, rindo dele.

O Mundo o empurrava para baixo... Queria esmaga-lo. Caiu de joelhos, rindo. Patético. PATÉTICO. PA-TÉ-TI-CO. O Mundo gritava, zombava dele. E ele ria. De si mesmo, e do Mundo. A voz estava certa. Pedro morrera. E seus destroços agora riam daquilo que fora. "Eu sou o ódio de Pedro. Eu sou as cinzas de seu coração, renascendo. Sou sua raiva. Sou todas as suas frustrações e decepções. Sou a força que ele não sabia que tinha. Sou sua esperança que virou revolta. Eu sou uma caixa de Pandora que foi aberta."

Subitamente, calou a si mesmo e ao mundo. Levantou-se. Tomou um banho rápido, e depois passou um pouco da maquiagem da sua mãe para esconder as olheiras e os olhos inchados. Voltou ao quarto e vestiu uma camisa branca de mangas longas, que ganhara de aniversário e nunca usara. Botou uma calça jeans qualquer e voilá, estava pronto. Desceu as escadas.

Foi à cozinha para matar a fome, mas ao chegar lá encontrou algo que o fez esquecer completamente da comida. Sobre a mesa estava a chave dA Honda. Aquela japonesa que desejeva a mais de dois anos, a amante com quem seu pai fugia para os confins do Estado quando estava de saco cheio. A amada de seu pai. Aquela que ele era proibido de tocar. Deu um passo em direção a chave.

[Pare! Termine o que comeceu ontem. Pra quê continuar com essa tragédia? Ou você acha que vai transformar isso numa fábula à la Tim Burton? Você já tentou isso antes. E foi um fracasso de público]

Pegou a chave. E, com passos largos, foi até a porta. Abriu-a. O Mundo tentava assustá-lo com sua imensidão. Dizia que não conseguiria. Desafiava-o a dar mais um passo. Respirou fundo e atravessou a porta. Foi andando em direção à moto parada em frente a casa...

... Mas isso é uma outra história. Ou melhor, uma nova fábula.

Saturday, November 05, 2005

End Of An Era

"...Oi." A voz dela era apenas um sussurro. Estava nervosa.

"..." Silêncio. Ele apenas fitava o chão, sua mão abrindo e fechando lentamente.

"Por favor, me perdoa. Eu... Eu... sinto muito... Me perdoa."

"..."

"... Por favor... Diga alguma coisa... Diga que me odeia, me bata, qualquer coisa! Mas não fica assim!" Ela estava desesperada. Nunca o havia visto assim tão... tão... Frágil. O garoto que sempre admirara pela sua força agora estava... Quebrado.

"... Por que?" Um sussurro. E ele sentiu alguma coisa molhar sua mão. A primeira lágrima caira.

"... Aconteceu...! Eu... Sinto muito... Me perdoa."

"Perdoar...?! PERDOAR?! Quantas vezes... Chega! Eu não vou mais deixar você fazer isso comigo. Chega." Ele explodira. Chegara ao seu limite. Veio a segunda lágrima. E a terceira. E a quarta...

"Mas eu nunca antes... Foi só uma vez que...-"

"Não é só disso que eu tô falando! Quantas outras vezes você veio me pedir perdão, hein?! QUANTAS VEZES VOCÊ FEZ CAGADA COMIGO E EU TE PERDOEI?!" Sua mão fechou. Pela primeira vez na vida, queria bater numa mulher. Soca-la até arrancar todos os dentes da boca, quebrar o nariz, chuta-la até suas pernas não obedecerem mais... Bater nela até não ter mais forças. Mas não podia. Nunca conseguiria fazer isso, porque... a amava.

"..." Ela apenas fitava-o, assustada, mas sem recuar. As lágrimas dela também corriam livremente agora.

"..." Nesse instante, a centésima lágrima molhou sua camisa. Tentou se recompor. Recuperar suas forças e se acalmar, tomar a decisão que era inevitável, mas que ele sempre adiava.

"... Me perdoa. Só mais essa vez... Eu quero ser sua amiga. Eu PRECISO de você." O garoto tinha se acalmado. Ela tentou tocar o seu braço.

Ele viu o braço dela se aproximando... Lentamente... Sabia que se a deixasse toca-lo, acabaria cedendo. Ia acabar desabando, chorando abraçado a ela. Sua raiva ia passar, e eles voltariam a ser amigos. Com o tempo, acabaria esquecendo aquele incidente...

Empurrou-a com toda a força. Ela caiu pra trás. Ele se virou e foi embora.